segunda-feira, 22 de setembro de 2008

De facas, xanas, e solilóquios.

O português-padrão da sua vida vai te pedir pra nunca contrair para o em pro. E assim você fará, quando estiver escrevendo a carta de recomendação da sua mãe para um bom sanatório, ou redigindo uma nota de apreço ao Sr. Diretor. O que o português-padrão (aquele de bigode e comendo bacalhau) ignora é que tanto o homem do sanatório quanto o Sr. Diretor lerão exatamente pro, quando virem o seu casto para o deitado no papel. A fala voa, a escrita se arrasta, e a gramática se enterra no chão. E o fazem pelo seguinte: a língua está bem mais próxima do cérebro do que a escrita, como a gramática está abissalmente distante deste.

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Transações de incrível violência são realizadas à margem do mercado de vaginas semi-novas. Vaginas corporativas da América do sul, idealmente empacotadas à vácuo e preservadas à temperatura de 42 graus célsius. Os fazendeiros, produtores e consumidores prioritários, mudaram de negócio. Se antes as pastagens ficavam brancas devido à cor dos pelos dos bois e vacas, hoje essas pastagens ficam rosadas devido à cor depilada dessas abundantes vulvas de alta qualidade.

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Esmurre a porta, até os punhos sangrarem. Até doer bastante. Primeiro a fúria, depois a indolência desrespeitosa e cruel, e por fim a apatia e o tédio. Não vale mais à pena ter idéias, nem organizar uma tipologia de nada. Vale à pena é se esvair em orgias de raiva, em orgias de sentimento, de amor, pra depois tudo se acabar na quarta-feira. Não vá tentar perder suas intuições em réplicas ou recriações de algum ideal estético auto-suficiente. Bote uns chinelos de dedo, uma camiseta do Roriz e vá dar murro em facas. você vai perceber o seguinte: por mais que sua mão esteja doendo, quando a raiva esfriar, a porta ainda vai estar firme lá, sem um arranhão e sem sair do lugar. Conclusão: da próxima vez, bata com a testa.


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Viver sem cultivar ilusão,
alternando longas apatias com espasmos de ódio e loucura.
A frustração alimentando a inércia alimentando o desespero
esperando a hora da morte
amém.

Um comentário:

Michael Az. disse...

Gosto muito de quando você trata de um assunto popular, ou de um argumento simples, sendo tão formal e culto na expressão, e de repente surpreende com uma palavra daquela que nenhuma senhora tradicional gostaria de ouvir.
Faz realmente bem ler isso e ter a mesma vibração de quem escreve, pois por mais que tente deixar seu texto limpo, resultando na clareza vc passa muito além do que esperamos.
Tá, tentei ler o texto anterior da forma que sugeriu, mas por momentos saí do trilho e... não há pessoa melhor pra entender a sua própria obra do que você mesmo. Acho engraçado isso, acredita.
Faço da mesma forma, queria escolher o que os leitores deveriam pensar na hora da lida. sei lá! Quanto a 'deixar pedaços de mim' nos meus textos, deve ser porque so procuro o lápis e o papel quando estou deprimido e preciso desabafar,ou raramente ficar feliz. (até porque quando fico feliz nunca dá pra escrever pois estou sempre porre) sei o quanto são pobres, as vezes,comparando com os teus, mas é porque estou tão lixo, que ultimamente empurro tudo com a barriga.

Tá, sei que cancerianos são muito informativos, mas...Como vc faz pra ser tão breve e transmitir tanto?