segunda-feira, 24 de novembro de 2008

título

Eu não sou boa gente. Não torço pra time nenhum, nem tenho deus no coração. Tudo que eu tenho são minhas mãos e aqueles que caminham comigo, pra fazer o dia nascer feliz.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

flora urbanae

Brasília é uma selva, nem só de pedra.


















dessassosego

João sofria de preguiça existencial. Não se tratava simplesmente de não querer acordar de manhã. João explicava sua situação da seguinte forma:
- É como estrar com fome e sentir preguiça de por a comida na boca e mastigar.
Disseram à João que, dali à alguns dias, a fábrica daria férias eternas para um monte de gente. Então, ele que se esmerasse em apertar aqueles parafusos, se não quisesse resolver o problema da preguiça de um jeito bem ruim.
João não respondeu, mas a pessoa que lhe disse aquilo não entendeu nada.
João pensou em sarar sua preguiça virando padre, fugindo pra Rússia ou arrumando mais um emprego. Mas ele sabia que nada disso daria jeito, porque a preguiça que João tinha não era de apertar parafusos, nem de acordar cedo, nem de nada disso. João sentia preguiça de pensar.
João tinha preguiça de pensar nos muitos problemas que ele tinha que resolver intimamente. É preciso entender os homens, é preciso entender as mulheres e as crianças. É preciso que João entenda à si mesmo. Mesmo sem resolver essas questões, João sabia que conseguiria dar jeito em tudo, porque brasileiro sempre dá jeito. Daria jeito no mau humor da mulher, daria um jeito de pagar a conta do boteco, daria um jeito de conseguir o perdão de Deus.
João era um caboclo inteligente. João já tinha todas as respostas que precisava. Ele estava lá com um punhado de coisas que ele podia acreditar, coisas nas quais muita gente acreditava, coisas que explicavam o mundo. O problema todo é que aquilo não resolvia intimamente as coisas. João não conseguia acreditar de verdade nelas. Tudo aquilo que era sólido sempre se desmanchava no ar, cedo ou tarde. Era por isso que joão gostava de ler o jornal de manhã. Ele sabia que, dentro do limite daquelas páginas, o mundo estaria lá, resolvido como um quebra cabeça todo montado. Seria sempre o mesmo velho mundo, mudando mas sempre o mesmo, como o café fraco e doce e o frio da manhã. As manhãs eram a parte mais feliz do dia.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O trabalhador é grande



Messias, deus, chefes supremos, nada esperamos de nenhum! Sejamos nós que conquistemos a terra mãe livre e comum!

sábado, 8 de novembro de 2008

um bom conselho, em forma de charada.

por que essas coisas, mesmo sendo dadas, nunca são de graça.


De quando em quando, o espírito do tempo joga uns baldes de água fria para me acordar do estupor do sonho engendrado pelas musas. Mas quem disse que despertar para o frio não é adormecer para o sonho?

O argumento baseado em fatos desconexos não desautoriza a força da leitura contínua feita em conjunto pela rica fauna subjetiva do ser. Se numa hora me abandonam, depois elas voltam, cada uma à sua moda, para me ninar. Tenho direitos sobre elas: tenho direito ao menos de um naco imbecil de piedade.

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O problema da prosa é esse: ela é pesada demais, não decola, não consegue ser "en theos". Não consegue estar na divindade. Assim, se eu me sinto pleno de espírito, se por um instante reverbero no meu peito toda a massa sonora da emoção do mundo, minha escrita nunca acompanhará esse prodígio. Ficarei aqui sentado batendo nessas velhas teclas ate que o fogo abaixe, se amaine de um jeito ou de outro. Tentarei agora dar conta de todo o desespero e ódio que me dá quando penso em todo esse calor que se perde na luta mais vã que existe: a luta contra as palavras. Não é tarefa difícil, basta dizer que aí se vão uns 1673 caracteres de vida, desperdiçados.