quarta-feira, 22 de abril de 2009

incursões (II)

2. A desgraça da raça humana, a verdadeira desgraça da juventude universitária de meus dias consiste em adotar justificações cada vez mais estéticas da vida. Quanto esforço, tempo e dinheiro não é gasto em regular milimetricamente um mundo de aparências socialmente elaboradas e cada vez mais meticulosas? Acho que, ao se definir no mundo, o sujeito atualmente o faz de forma puramente estética. Vou ser médico, porque acho bonitas as roupas brancas. Ao se projetar num futuro ideal, o doidão o faz praticamente como quem compõe uma cena. Lá estou eu: saindo de um apartamento bem decorado em tal bairro, pegando tal carro, com tal modelo de mulher ao meu lado. A cor da minha camisa é praticamente tão importante quanto o lugar onde eu trabalho. Digo, a justificativa estética tem sim seu valor. Por mais desagregadora que seja, a vida estética tem a propriedade de ser livre de vínculos profundos. Muda-se de vida como quem muda de roupa (literalmente) e isso chega a ser bom, se um se encontra totalmente privado de um sentido de construção amplo e duradouro.

Um comentário:

Juliana Walczuk disse...

É aquilo que antes era chamado de inversão de valores, mas vai tão além.
E apenas me pergunto se seria medo do profundo, recordando a conversa sobre 'sociedade-creche'.