quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Nunca me conformei com as designações classemedianas para os pobres. O pudor deles costuma dizer: “Ah, é uma moça simplezinha...” ou “Essa gente humilde”. A primeira expressão revela além de tudo uma arrogância enorme que serve para nos proteger: Eles são simples, ou seja, são também rústicos, podem tolerar com facilidade condições horrendas de vida e de trabalho. Nós, que somos muito mais complexos, tanto corporal quanto mentalmente, precisamos de mais cuidados, precisamos dos nossos privilégios. A segunda é certamente fruto de tanto tempo de catolicismo como religião oficial. Pobre não pode ser orgulhoso nem pretensioso; é sempre humilde. Ter orgulho, aliás, é pecado, coisa desses vendilhões do templo.
Nossa linguagem serve para nos proteger, e nesse caso, nos proteger de nós mesmos. Caso o leitor deseje encarar a linguagem e a maioria de seus conterrâneos de maneira mais honesta, chame-os simplesmente de pobres.
É claro, pobre é uma palavra que não gostamos, então, buscando um epíteto mais verídico e preciso, conclui que a melhor palavra para designar o cidadão de baixa renda (ou miserável) é fodido. Sim, Fodido. É feio, sujo, até de mal gosto, e é entretanto extremamente realista. Se um é fodido, necessariamente o é porque alguém o fodeu. No caso, nossos pobres foram fodidos, explorados, escamoteados, espoliados durante todo o tempo. E nós sabemos muito bem por quem.

Um comentário:

[ AritAnna-Varney ] disse...

Esses vícios de linguagem eufemista são nada mais do que o medo que todos nós sentimos de parecer arrogantes e desinteressados com a situação ruim dos "fodidos". Na realidade, não seriam essas pessoas as reais fodidas da história ? No caso, vítimas de masturbação contínua.