quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

sobre blogs, queijos e epígonos

Por que não ler blogs? Porque não, em vez de comprar montes de folhas com assinaturas célebres, se perder nos corredores úmidos e difusos das páginas de um monitor qualquer? Não como fonte única, mas como complemento...

Também o leite pasteurizado trás lá indicações de não ser utilizado como única fonte de alimentação do lactente. A "blogsfera" é como o leite, como a via láctea. Uma dispersão (ou um colóide), comum, cotidiano, sem forma definida, líquido, quase gasoso.

Já os livros prontos e celebrizados e estabelecidos são como o queijo: fechados, sólidos, à venda nas feiras e nas boutiques. Até nisso os livros e os queijos se parecem: os mais caros costumam ser os mais embolorados, e são também os de sabor mais apurado.

Hoje empreendi um passeio curioso por entre essa flora jovem e delicada dos blogs. É estranho pra mim pensar que toda essa via láctea será espremida, coada, até chegar numa certa nata, que dificilmente corresponderá ao melhor ou mais original de tudo que foi engendrado pelas nossas mãos. E dessa nata será feito o queijo, e o queijo será consumido dentro do pãozinho francês da nossa mesquinha experiência cotidiana.

O que será feito da produção literária da nossa geração? Será que o século XXI está condenado eternamente à ler "Marley e Eu" ? Haverão Flauberts, haverão Guimarães Rosas, haverão Machadões e Drummonds, haverão Wildes e Tolstois do nosso século? Certamente que haverão. Mas talvez eles estejam fadados à morrer de infarto numa repartição pública aos sessenta anos, ou à morrer de fome enquanto o mundo lê Paris Hilton. Não há nada de mal na Paris Hilton. Admiro aqueles que fazem mais que aqueles que ficam da margem olhando. Mas me angustia pensar na quantidade de beleza perdida num caso desses.

Será que um dia publicarão nossas cartas? Ou melhor, será que um dia publicarão nossas conversas no msn? Não subestimem as conversas no msn. Delas brotam idéias geniais. Acho mesmo que delas virão coisas que assombrarão o espírito do nosso tempo.

E brasília? Um velho tocador de alaúde um dia disse que, daqui à cem anos, seremos o centro cultural do Brasil. Eu desconfio que não, mas penso que talvez sim. Uma Florença no meio do cerrado, com o Paranoá à guisa de Arno...

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom! Estou aliviado com o fato de ainda existirem seres pensantes aqui em brasília! Acho que ninguém percebeu o desenvolvimento dessa esfera! Mas estão ajudando a construíla aos poucos.Do jeito que as coisas estão andando não tem como essa esfera não se tornar uma espécie produção literária do século XXI ou sei lá o que. Vamos ver no que isso vai dar...

Anônimo disse...

É... evidentemente foi-se a era em que a literatura pertencia exclusivamente aos impressos. Acho ótimo que o leque se abra dessa forma (tão expansiva, agressivamente até) porque assim a gente pode exercer o discernimento e buscar as "flores no lodo", digamos, decidir segundo nossos próprios critérios o que vale e o que não vale a pena ser lido, sem consultar os dez mais da veja.
mas é o começo de um outro tipo de literatura, não? aquela desconhecida, sucetível à destruição rápida, ao esquecimento... Lembro de ler um blog lá por volta de 2005, de uma menina que nem lembro o nome, ou o nick que ela usava, e não lembro sequer o nome do blog... Só lembro que me proporcionava leituras sensacionais, momentos de verdadeira identificação e admiração por uma escrita tão bem desenvolvida, com personalidade própria, nuances que escapavam sempre à mediocridade do bem-feito, do mediano. Aquilo ali era literatura (assim como este blog é, a meu ver) e é ótimo poder transitar por esses espaços e retornar a eles. Ainda que por um clique todas as palavras que se encontram aqui porventura desapareçam (se vc ñ tomar o cuidado de salvar seus textos, erro que eu já cometi e me custou um blog inteiro de três anos!) mesmo destinadas ao limbo da internet, a gente leva trechos, sentenças, idéias. A transmissão que não se perde. No fim das contas, da mesma forma como não esqueço Tolstoi por não tê-lo nas mãos em forma de livro, não esqueço boa literatura depois do F4.
:-)
E por isso to sempre voltando.

chora rita disse...

hihihihihihihihihi